A salvação da lavoura da economia de Campos pode estar no agronegócio, gerando energia. Sobre isso não tem dúvidas o secretário de Agricultura do município, professor Almy Jr., que já foi reitor na Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), e que trata o assunto de forma acadêmica.
Segundo ele, estão previstos investimentos robustos neste setor, principalmente na área energética, o que poderá colocar Campos na condição de capital do Estado quando o assunto for a chamada energia limpa.
Almy Jr. soma os fatores, diminuiu o pessimismo e multiplica as expectativas. Fechando a conta: ele acredita que o denominador comum para que a economia de Campos venha a gerar renda e emprego esteja mesmo no agronegócio.
O senhor fala que está acontecendo uma “revolução silenciosa” no agronegócio em Campos com foco na energia. Como isso está acontecendo?
Campos dos Goytacazes tem um potencial gigantesco para a agropecuária. Não sou eu que estou dizendo, é a história. De certo modo, esse potencial ficou “escondido” pelo foco na indústria do petróleo. Isso tem mudado nos últimos anos. Políticas públicas aliadas para mostrar o nosso município para o mundo despertou o que é a nossa real vocação. Ações como a privatização do Hotel Fazenda Pedra Lisa, a mudança da legislação sobre o cultivo de florestas, o desenvolvimento da economia verde. A nossa localização geográfica, o Porto do Açu, o preço das nossas terras, entre outras. Tudo isso despertou investidores do Brasil para investirem em nossa região. Isso dará frutos gigantescos nos próximos 5-20 anos. Essa revolução vai acontecer e vai gerar emprego e renda para nossa região.
Já existiria um investimento de R$ 800 milhões somente no plantio de eucalipto no município. Esse número pode crescer?
O investimento não é pequeno e vai crescer. Florestas plantadas é uma necessidade mundial daqui, da Suécia, da Alemanha, etc. Não temos outra saída que não seja produzir, de maneira sustentável, madeiras e celulose. Os seres humanos pedem isso. Tenho a convicção de que vai crescer muito. Teremos, num futuro próximo, agroindústrias, sistemas floresta-pecuária, que irão mudar a realidade local. Isso já está acontecendo, basta caminhar na BR-101 de Campos à divisa do Estado do Espírito Santo.
Também se fala no plantio de Capiaçu, e esse seria um investimento gigante de mais de R$ 1,5 bilhão. Pode falar sobre isso?
A produção de bioenergia, biofertilizantes é uma necessidade mundial. Sustentabilidade e economia verde dependem da produção de biomassa. Estudos indicam que o Capiaçu, uma variedade de capim elefante desenvolvido pela Embrapa, pode ser um grande gerador de bioenergia e biofertilizante. No caso específico do nosso município, existem empresários que querem investir nas nossas terras para produzir bioenergia e biofertilizantes a partir da biomassa deste material genético vegetal. Se isso se concretizar, e tem tudo para ocorrer, teremos uma matriz altamente sustentável que pode mudar a realidade do agronegócio campista.
Isso se configurando, Campos aria a ser a capital da energia limpa do Estado e uma das principais do país?
Acredito nisso e vejo isso acontecendo. Terras muito mais baratas que várias regiões agrícolas do Brasil, um porto que demanda energia limpa e nos dá oportunidades logísticas que não temos igual no Brasil. Energia limpa, oriunda da produção de biomassa agrícola, biofertilizantes, uma demanda mundial gigante, um porto, terras com potencial agrícola fantástico. Pois bem, acredito e vai acontecer.
O prefeito Wladimir Garotinho está entusiasmado com todas essas expectativas e está mantendo contatos com empresários. Como está sendo isso?
O prefeito Wladimir Garotinho e o vice-prefeito Frederico Paes acreditam que nossa saída está no agronegócio e estão, no governo, sob suas responsabilidades, tomando decisões que vão fazer a diferença no médio prazo. Mudar a matriz econômica demanda tempo, a política, os políticos precisam compreender que resultados, nessa área, demandam tempo. Precisam acreditar no que a ciência e o desenvolvimento tecnológico indicam. O prefeito Wladimir Garotinho acredita nisso. Mudanças na legislação para atrair investidores são fundamentais e isso tem sido feito. Importante destacar que tais políticas não darão resultado econômico e social num curto espaço de tempo.
Além desta questão da energia, existe a expectativa do plantio de café tendo à frente um empresário do Espírito Santo. Teremos café também?
Eu acredito que teremos café e várias outras culturas. O cultivo do café, pelo preço de mercado desta atividade agrícola atualmente, tem despertado interesse de muita gente. Tenho certeza de que as áreas agrícolas que estão sendo adquiridas por investidores neste momento serão destinadas a esta atividade. Se eu tivesse escolha, investiria na produção de café. Destaco, é importante a competência técnica e um olhar primordial à tecnologia. Sem competência técnica, esqueça, vai dar errado.
É verdadeira a percepção de que o empresariado do Espírito Santo está investindo pesado em terras em Campos?
Na região mais produtiva da agricultura capixaba, uma área de terra agrícola vale, no mínimo, cinco vezes mais do que na nossa região. Do ponto de vista edafoclimático, estamos falando de regiões muito semelhantes. Não vejo porque não olharem para nossa região, tem gente olhando e investindo. Temos também investidores de outros estados de olho nas nossas terras.
Voltando à questão da energia. Campos como polo de energia limpa vai gerar mais empregos e atrair outros negócios?
Bioenergia e biofertilizantes são necessidades imediatas para o mundo. Já temos empresas investindo ou prospectando para nossa região. Podemos, sim, ser a referência nacional neste setor.
Na pecuária, ao mesmo tempo existe a expectativa de se voltar à boa era da produção de leite e também exportação de gado vivo. Como o senhor vê essas duas questões?
Há um ano fizemos, na Prefeitura de Campos, junto com o Sindicato Rural de Campos e a FAPERJ, um seminário sobre a exportação de gado vivo a partir do Porto do Açu. Um ano depois temos um porto credenciado para tal atividade e o Ministério da Agricultura credenciando produtores para fazer tal ação dentro do Estado do Rio de Janeiro. Vamos exportar? Tenho certeza que sim e isso será benéfico para atividade agropecuária do nosso município. Vamos viabilizar abatedouros regionais, vamos agregar à nossa produção regional valor econômico e produção de proteínas. A soja, o milho, a cana-de-açúcar, irão virar proteína animal. Só para citar o tamanho desta atividade, nos últimos 10 anos o Brasil ou de exportar 3-5 mil bois vivos para a Arabia e atualmente exporta mais de 1 milhão. Qual o melhor porto do Brasil para tal tarefa? O porto rural do Açu.
Definitivamente o senhor acredita, com essa revolução que realmente está acontecendo, que o potencial econômico de Campos está no agronegócio?
Sou otimista quanto a isso. Mas não cairá do céu. O Estado do Rio de Janeiro precisa fazer o dever de casa. Nossa legislação não ajuda, a política estadual parece trabalhar contra isso. Quer um exemplo? No Senado brasileiro existe um projeto de Lei, o PL nº 1440/2019, cujo objetivo é reconhecer a adversidade climática da nossa região… cada vez mais temos mais dias secos e mais intensidade de chuvas. Bom, vejo apenas o prefeito Wladimir Garotinho, o senador Portinho e o senador Romário lutando por esta pauta. Projeto de Lei ou política neste sentido salvou a atividade agropecuária do Norte do Estado do Espírito Santo, que é, atualmente, uma potência da agricultura brasileira. Precisamos que a política do Estado do Rio de Janeiro abrace tal causa, se queremos um estado mais forte no futuro.
Para o senhor, o eucalipto faz mal ao ambiente ou não?
A monocultura não é o melhor dos mundos, mas é necessária. Se formos eficientes na produção de biomassa, podemos preservar mais e mais as áreas de matas nativas, como a Mata Atlântica e a Floresta Amazônica, por exemplo. Eucalipto faz mal? Bom, depende do que os seres humanos querem para viver melhor. Pouca gente sabe, mas nascemos utilizando florestas plantadas e morremos utilizando florestas plantas, ou pelo menos devemos. Sabe de onde vêm as fraldas? Das florestas plantadas, eucalipto incluído. Sabe de onde vêm os caixões? Das florestas plantadas. Sabe de onde vêm, ou deveriam vir, os carvões das pizzas dos fornos a lenha? Das florestas plantas, eu espero que não venham de florestas nativas. Embalagens, papéis, fraldas, celulose solúvel para sucos, algodão solúvel, vestuários, aço a base de carvão vegetal, inclusive para a produção de instrumentos cirúrgicos, equipamentos para captação energia solar, energia para caldeiras, para fornos, tudo isso pode vir e vem de florestas renováveis, principalmente de eucaliptos e pinus. Ou seja, quem é contra a produção de madeira plantada provavelmente é a favor da produção de madeiras de florestas nativas.