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Doenças respiratórias lotam hospitais e UTIs

Beda registra aumento de internação de pacientes graves e discute estratégia de enfrentamento

Especial J3
Por Ocinei Trindade
1 de junho de 2025 - 0h01
Sinal|Atendimento pediátrico por doenças respiratórias tem lotado hospitais de Campos (Foto: iStock)

As últimas semanas têm sido marcadas pelo elevado número de pessoas com sintomas de gripe e infecções respiratórias em várias regiões do País. Os números referentes ao mês de maio em Campos dos Goytacazes ainda não tinham sido fechados até o fim da edição desta reportagem. No entanto, a Secretaria Municipal de Saúde já sinalizava 7.090 registros de atendimentos na Clínica da Criança em menos de três meses. Já no Hospital São José, no mesmo período, foram 5.189 registros de infecção respiratória em adultos e crianças. O Hospital Dr.Beda aumentou em 25% os atendimentos de emergência em maio. As internações de pacientes graves e ampliação de leitos em unidade de terapia intensiva são avaliadas.

Durante a semana ada, os médicos Pedro Conte e Nicolau Schettino, responsáveis pelo  Setor de Emergência do Hospital Dr.Beda, se reuniram com a diretora istrativa do Grupo IMNE, Martha Henriques, com a diretora de Qualidade, Gabriela Neves, e com a médica infectologista Andreya Moreira, responsável pelo Serviço de Controle de Infecção Hospitalar. Eles discutiram estratégias para o atendimento de pacientes com sintomas de infecção respiratória. De acordo com o InfoGripe da Fiocruz, o Rio de Janeiro é um dos estados com maior incidência de doenças respiratórias atualmente no Brasil.

Alerta|O número de pacientes internados em UTI também subiu (Foto: Arquivo/Agência Brasil)

“Não era esperado um volume tão grande de atendimentos como estamos tendo. Avaliamos como nos organizar quanto às vagas de internação e à necessidade de ampliar nossa retaguarda, principalmente assistencial — médicos e equipe de enfermagem — para garantirmos um atendimento adequado a esses pacientes”, diz o médico Nicolau Schettino.

Dr. Pedro Conte

De acordo com o médico Pedro Conte, cardiologista e intensivista, os sintomas gripais na emergência, comparados ao mês de abril, tiveram aumento em torno de 25%. “A gente tem alguns consultórios específicos voltados para atendimento respiratório. A maior parte tem sido por vírus influenza, principalmente o H1N1. O hospital também ou por adaptações nos fluxos, criando mecanismos de isolamento respiratório durante a internação”, explica.

A diretora istrativa Martha Henriques comentou que havia cinco pacientes adultos na UTI. “Fizemos uma reunião para avaliar a possibilidade de transformar uma das nossas UTIs em uma UTI de doenças respiratórias. Reunimos os pediatras para entender qual é o cenário. A emergência pediátrica está superlotada. Contratamos mais dois médicos — hoje estamos com cinco médicos — para atender esse volume enorme. Até maio, devemos encerrar com cerca de 4.200 atendimentos na emergência geral. São decisões importantes para garantir atendimento com qualidade e segurança para crianças e adultos”, destaca.

Dados de infecções respiratórias
O mais recente boletim nacional sobre infecções respiratórias divulgado pela Fundação Oswaldo Cruz, revela que a prevalência entre os casos positivos foi de 33,3% para influenza A; 0,9% para influenza B; 53,6% para VSR; 14,6% para rinovírus; e 2,3% para SARS-CoV-2 (Covid-19). Entre os óbitos, a presença destes mesmos vírus entre os positivos e no mesmo recorte temporal foi de 69,7% para influenza A; 1,3% para influenza B; 13% para VSR; 9% para rinovírus; e 8,1% para Sars-CoV-2 (Covid-19).

Em Campos, por exemplo, o laboratório XY Diagnose realizou exames entre 1 e 27 de maio que apontaram que os principais vírus circulantes são Influenza A, Rinovírus, Vírus sincicial respiratório, Adenovírus e Enterovirus. Isto se refere aos atendimentos feitos no Hospital Dr. Beda. A médica infectologista Andreya Moreira avalia a atual situação na cidade:

Drª. Andreya Moreira

“Em Campos, estamos ando por um período de sazonalidade, assim como o resto do Brasil, mas com um índice muito alto de H1N1 — o que chamamos de influenza A. Além disso, há outra virose que estamos investigando, tentando identificar qual vírus está prolongando o tempo da doença. Em algumas pessoas que têm comorbidades — por exemplo, um asmático, um idoso com insuficiência renal, ou com DPOC — há evolução para pneumonia. Isso lota os prontos-socorros. E, a partir daí, o nosso giro de leitos é impactado, porque esses pacientes precisam de internação. Muitos estão evoluindo para síndrome respiratória aguda grave, indo para o CTI e necessitando de intubação. Isso gera um impacto muito grande tanto para o hospital quanto para a comunidade”, diz.

Andreya Moreira preconiza a prevenção e a vacinação. “Existe a vacina pública e a vacina particular. Está disponível em vários locais para as pessoas se imunizarem. A vacina pública cobre três cepas: duas cepas de influenza A e uma cepa de influenza B. É essencial manter hábitos básicos de higiene das mãos e evitar contato muito próximo”.

Estratégia|Equipe do Beda discute protocolos para enfrentar o aumento de casos (Foto: Ocinei Trindade)

Atendimento em Campos
Com o fim da Emergência Pediátrica do Hospital dos Plantadores de Cana no dia 31 de maio, há uma apreensão por parte da população e profissionais de saúde, sobretudo neste período de outono e inverno. De acordo com a Secretaria de Saúde, as crianças am por triagem com classificação de risco. O Hospital Ferreira Machado é referência em urgência e emergência de alta complexidade. Foram 78 atendimentos pediátricos relacionados a asma, bronquiolite, pneumonia, insuficiência respiratória, bronquiolite aguda e broncopneumonia. As Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica do HFM contaram com 60 internações de março a maio.

“Com o fechamento da Emergência Pediátrica do HPC, a população deverá buscar atendimento na Clínica da Criança, no Hospital São José e no Hospital Ferreira Machado, sendo este último para casos mais graves. Também são referência para o atendimento as Unidades Pré-Hospitalares, além da Unidade Pronto Atendimento (UPA). A pediatria do Hospital Geral de Guarus (HGG), funciona exclusivamente para casos de internação clínica. Por enquanto, não foi observada falta de vagas tanto para o acolhimento quanto para internação de crianças”, informou a nota da SMS.

Atenção infantil
O Centro de Pediatria Lília Neves (Ceplin) faz parte do Grupo IMNE. O médico alergista e imunologista Luiz Bandoli, articulista do J3News e integrante do Ceplin, avalia a atual situação que envolve cuidados e tratamentos para pessoas com síndrome gripal, sobretudo os bebês e crianças pequenas.

“O aumento de infecções é multifatorial. No outono e inverno, o clima fica mais seco e frio, o que favorece a circulação de vírus respiratórios e reduz a capacidade de defesa natural das vias aéreas. No caso de Campos, há um agravante importante: a queima de canaviais que libera na atmosfera partículas finas e substâncias tóxicas. Os principais sintomas incluem coriza (nariz escorrendo), tosse, espirros, febre leve a moderada, e cansaço. Em bebês, é importante observar se há dificuldade para mamar ou irritabilidade fora do comum. Um resfriado comum geralmente tem sintomas leves, como coriza, tosse leve e febre baixa, que melhoram em alguns dias. Já uma infecção mais séria, como uma bronquiolite ou pneumonia, pode apresentar febre alta persistente, dificuldade para respirar, chiado no peito, ou respiração muito rápida”, diz o médico alergista. Ele complementa:

 “O aumento expressivo dos casos de infecções respiratórias neste período tem gerado uma demanda acima do habitual nos serviços de saúde, especialmente nas unidades pediátricas. O sistema sente os impactos dessa sazonalidade. O acolhimento e a segurança dos pacientes são sempre prioridades”, diz Luiz Bandoli.

O Ceplin trabalha para otimizar os atendimentos, priorizando os casos mais graves, e buscando alternativas para reduzir o tempo de espera. “Essa é uma realidade enfrentada por muitas cidades neste momento, e exige um esforço conjunto — entre profissionais de saúde, gestores públicos e a própria comunidade. O mais importante é manter a calma, observar os sinais do corpo da criança e procurar atendimento médico quando necessário. Prevenção, informação e cuidado são as melhores armas contra as infecções respiratórias”, conclui.