Popularmente conhecida como gordura no fígado, a esteatose hepática é uma condição que pode ar despercebida, mas sua evolução pode ter consequências devastadoras. A médica gastroenterologista e hepatologista Renata Valliant, que integra a equipe do Gastro Prime, serviço especializado do Beda Prime, em Campos dos Goytacazes, esclarece os principais pontos sobre a doença e reforça a importância do diagnóstico precoce e das mudanças no estilo de vida.
“A esteatose acontece quando o fígado acumula muita gordura, e isso pode ser causado por diversos fatores. Se não for tratada, pode levar à inflamação — condição conhecida como NASH, ou esteato-hepatite não alcoólica — e evoluir para cirrose ou até mesmo câncer no fígado. A boa notícia é que, se detectada cedo, pode ser controlada e até revertida com mudanças de hábito”, afirma.
Entre os principais fatores de risco estão a obesidade, resistência à insulina, diabetes tipo 2, dislipidemia, hipertensão arterial, sedentarismo e dieta rica em gorduras saturadas e açúcares refinados. Fatores genéticos também podem influenciar. Segundo a especialista, diferenciar a esteatose simples da esteato-hepatite exige exames específicos. Enquanto a forma simples se caracteriza apenas pela presença de gordura, com enzimas hepáticas pouco alteradas, a NASH envolve inflamação e dano nas células do fígado, com elevação acentuada dessas enzimas e risco de fibrose.
Na progressão para quadros mais graves, sintomas como fadiga extrema, dor no lado direito do abdômen, perda de peso sem explicação, inchaço abdominal, icterícia, náuseas e falta de apetite podem surgir. Esses sinais indicam que a esteatose está avançando para um estágio mais perigoso.
A cirrose não é exclusividade de pessoas que consomem álcool em excesso. “A chamada síndrome metabólica, associada à obesidade, diabetes e colesterol alto, também pode causar degeneração hepática severa mesmo sem consumo alcoólico. O diagnóstico de NASH envolve exames como a ultrassonografia abdominal, a elastografia (FibroScan), que mede a rigidez do fígado, e análises laboratoriais de sangue que avaliam inflamação e função hepática”, explica Renata.
O risco de câncer de fígado está diretamente relacionado ao processo inflamatório crônico, à fibrose e a alterações genéticas no tecido hepático. “Essas condições criam um ambiente propício para mutações, aumentando a chance de surgimento de tumores”, explica.
Sobre terapias experimentais, a médica aponta que há pesquisas promissoras com células-tronco e células de Ito, responsáveis pela cicatrização hepática. Já o transplante de fígado é indicado apenas em estágios muito avançados. A reversão da gordura no fígado nos estágios iniciais é possível por meio de dieta equilibrada e prática de atividade física. Frutas, verduras, proteínas magras como peixe e frango, além de gorduras saudáveis presentes no azeite de oliva e no abacate são recomendados. Deve-se evitar frituras, carnes gordurosas, doces, refrigerantes, pães brancos e alimentos ultraprocessados. A atividade física ajuda a reduzir a gordura acumulada, melhora o controle glicêmico e combate a inflamação. A médica faz um alerta sobre o uso de chás ou ervas como tratamento alternativo:
“Alguns chás podem ser tóxicos para o fígado e causar danos severos, como hepatite fulminante. É preciso orientação médica sempre. Nosso fígado é um órgão silencioso, mas vital. Quando ele fala, geralmente já está sofrendo. Por isso, a prevenção e o acompanhamento médico são fundamentais”, conclui.